Mais de 20 mil brasileiros se uniram para assinar uma petição online que expressa preocupação com o viés da cobertura da grande mídia que “desumaniza civis palestinos”.
“Estamos conclamando que a mídia brasileira — a GloboNews, O Globo e a Globo, em particular — reconsidere sua legitimação editorial ao que observadores internacionais neutros afirmam ser crimes de guerra e crimes contra a humanidade perpetrados pelo governo de Israel”, diz o abaixo-assinado, lançado no domingo pelo Intercept Brasil.
A petição destaca que muitos meios de comunicação brasileiros têm distorcido fatos importantes, ecoado a propaganda israelense e minimizado vozes palestinas significativas na sua cobertura. Além disso, ela critica o viés pró-Israel que, muitas vezes, cruza a linha do racismo e da islamofobia.
Um trecho da petição diz: “Nenhuma ação do Hamas, por mais deplorável que seja, justifica a selvageria que está sendo infligida ao povo inocente de Gaza. A oposição às políticas de Israel não é conivência com o assassinato de civis pelo Hamas, nem é inerentemente antissemita, como muitas vezes é falsamente sugerido no debate em curso nestes meios de comunicação.”
O documento também cita comentários problemáticos de comentaristas da GloboNews, como Jorge Pontual e Guga Chacra, que minimizaram a perda de vidas palestinas e desumanizaram os civis.
A petição se encerra com um apelo à mídia brasileira para que seja responsável e defenda a vida e a dignidade humana. “É hora de deixar de lado as lealdades políticas, cessar o apoio acrítico ao assassinato em massa de civis e exigir o fim imediato da violência. Essa posição não é pró-Israel ou pró-Palestina — é pró-Humanidade.”
Você pode assinar a petição aqui:
Situação humanitária crítica em Gaza
Cerca de 3.450 palestinianos foram mortos em ataques israelitas a Gaza desde o ataque do Hamas em Israel, que matou mais de 1.400 pessoas em 7 de outubro. Outros 13 mil palestinos e 4.475 israelenses ficaram feridos.
Israel afirmou na quinta-feira ter lançado sobre Gaza 6 mil bombas, que pesam um total de 4 mil toneladas, durante os primeiros cinco dias da sua ofensiva. Nos seis dias seguintes, os ataques aéreos israelenses em áreas civis densamente povoadas permaneceram constantes.
Muitos líderes globais apelaram a Israel para aceitar um cessar-fogo imediato, mas Israel e o seu principal aliado, os Estados Unidos, recusaram-se a fazê-lo.
A proposta brasileira apresentada ao Conselho de Segurança da ONU, que definia uma pausa humanitária em Gaza, foi vetada hoje pelos Estados Unidos.
Israel também se recusou a levantar o seu “bloqueio total” de luz, água, alimentos e assistência humanitária a Gaza. As Nações Unidas afirmaram que o bloqueio está causando uma “catástrofe humana sem precedentes”. Mas nesta quarta-feira, Israel anunciou pela primeira vez que permitiria a entrada limitada e qualificada de ajuda humanitária no território sitiado.
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A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino disse à Al Jazeera que “ninguém sabe” se a ajuda realmente chegará a quem precisa, mas que está se preparando para distribuir suprimentos essenciais.
Ataque ao Hospital Árabe Al-Ahli provoca reação política
A concessão de Israel ao considerar a entrada de ajuda humanitária ocorre depois de uma nova onda de pressão internacional. Vários líderes globais e organizações de direitos humanos condenaram Israel pelo bombardeio massivo ao Hospital Árabe al-Ahli, em Gaza, na noite de terça-feira. O ataque matou entre 300 e 500 pessoas, de acordo com fontes oficiais. Israel nega responsabilidade. O presidente dos EUA, Joe Biden, repetiu a alegação de Israel de que a Jihad Islâmica Palestina, um aliado do Hamas, seria a responsável. Por sua parte, o grupo também negou a autoria do bombardeio.
A Organização Mundial da Saúde afirma que Israel alvejou os prestadores de serviços e instalações de saúde em Gaza mais de 115 vezes desde 7 de outubro.
Um vídeo de celular que foi verificado como autêntico pelo Washington Post é a única filmagem de perto do momento da explosão que surgiu até agora. Ao ver o vídeo, percebe-se um zumbido agudo antes da explosão de uma enorme bola de fogo.
Um porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu originalmente comemorou a explosão como um ataque israelense a uma base do Hamas no hospital, mas rapidamente excluiu a postagem.
Israel então circulou vídeos antigos, alegando que eram de um foguete do Hamas que errou o disparo e atingiu o hospital, depois publicou outras imagens – supostamente, de uma transmissão ao vivo da Al Jazeera Arabic. A rede não respondeu ao pedido de comentário do Intercept sobre as supostas imagens.
Os canais oficiais israelenses publicaram um mapa sugerindo que um foguete palestino foi disparado de 5 quilômetros de distância e, após um mau funcionamento, atingiu o hospital. Horas depois, Israel divulgou um suposto grampo não verificado de dois militantes do Hamas, afirmando que o foguete foi disparado pela Jihad Islâmica Palestina de um local de lançamento no cemitério logo atrás do hospital.
Um porta-voz do hospital disse em uma coletiva de imprensa na terça, cercado por cadáveres, que os israelenses já haviam atingido o hospital com dois foguetes no sábado, 14 de outubro. Ele relatou ainda que um oficial do Exército israelense ligou para o diretor do hospital, assumindo a responsabilidade pelos ataques naquele dia e perguntando por que eles ainda não haviam evacuado o prédio.
Diga à grande mídia que o Brasil deve defender a paz. Você pode assinar a petição aqui:
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